quarta-feira, 21 de novembro de 2012

O corpo grita

"ESTAR DE VOLTA PARECIA DISTANTE..."

EIS O MOMENTO DE RETOMAR A ESCRITA QUE TANTO ME SERVIU COMO ACALENTO E LIBERTAÇÃO.
INCRÍVEL COMO PASSAMOS POR SITUAÇÕES E/OU MOMENTOS EM NOSSAS VIDAS QUE JAMAIS SONHARÍAMOS EM VIVER. DIZEM QUE TÊM FASES DA NOSSA VIDA EM QUE PASSAMOS POR GRANDES TRANSFORMAÇÕES OU AQUELA EM QUE FAZEMOS O BALANÇO DO QUE FOI VIVIDO E DO QUE QUER VIVER. ENCONTRO-ME EM UMA DESSAS OU QUEM SABE NAS DUAS...=)

O corpo fala conosco o tempo inteiro, parece gritar! O nosso corpo pode transmitir exatamente o que se passa dentro de nós. Mas como entender os sinais? Como fazer o nosso corpo interagir de forma plena para que possamos nos sentir melhor? Acho que Batendo Texto a gente pode tentar se ajudar.
Segundo a medicina oriental, cada órgão do corpo está ligado a um sentimento, emoção. A terapeuta holística, Dryka Queiroz, discorre sobre isso em seu blog:

"RELAÇÃO DOS ÓRGÃOS E OS SENTIMENTOS
O elemento Água rins responsável pelo sentimento de sobrevivência, pelo medo, inclusive pelo medo da morte e do desconhecido. Quando não estão bem os rins podem gerar ansiedade, medo de tudo, pânico e até mesmo o sentimento de pavor! Um bom
funcionamento dos rins conduz a um comportamento de coragem e segurança com a vida. Quem tem um rim bom transmite calma e segurança para todos.

Madeira é o elemento do Fígado e Vesícula Biliar. Quando o fígado não vai bem produz sentimentos de raiva, estresse, inquietude, sentimento de injustiça, depressão, vontade de brigar e irritação extrema. Um bom funcionamento conduz a expressão alegre, feliz e relaxada. Alto astral!

O Fogo é o elemento do Coração. Quando não esta bem, causa sentimento de solidão, falta de amor ou incapacidade de amar. O espírito fica contrariado por não conseguir se relacionar com amigos ou familiares. Um bom coração é responsável pela pessoa amável, aberta ao amor e às relações, está sempre feliz e confiante, elevada auto-estima, paixão pela vida, pelos amigos e pela família...

O elemento Terra Baço/pâncreas, no seu aspecto negativo, é regido pela introspecção exagerada, sentimento de isolamento social e auto-compaixão. A ação é demorada e sempre acompanhada de sentimentos negativos. O bom funcionamento leva a ter força emocional construtiva e extremamente positiva. Produz sensação de otimismo com projetos, criações. Gera atitudes harmoniosas com a família e amigos.

O elemento Metal Pulmão é fonte de tristeza, sentimento de perda e dependência emocional à outra pessoa, quando não está bem. Pode também causar vazio espiritual, falta de crença em tudo e desilusão. Um bom pulmão, ao contrario, gera sentimento de liberdade, liderança, força espiritual e mente brilhante."

Então vejamos, primeiramente devemos ter noção de onde fica cada órgão do nosso corpo, ou seja, conhecer anatomicamente o corpo humano. Parece fácil, mas podemos sentir, por exemplo, um mal estar que parece estar vindo do estômago, mas na verdade é o nosso fígado que está ruim. Neste caso, poderíamos achar que estamos emocionalmente perturbados por uma coisa, mas na verdade é outra, por isso a importância deste primeiro passo. Segundo, estarmos sempre alertas com o próprio corpo, pois tudo que é descoberto no inicio é mais fácil de conter, ou seja, unir o primeiro ao segundo passo, o conhecimento e a observação. Mais uma vez parece simples, entretanto se nos atentarmos ao mundo em que vivemos fica claro o nosso despreparo.
Estamos habitando um mundo em que não há preocupação com a falta de informação, pelo contrário, o receio hoje é sobre a confiabilidade da origem da informação. Os livros estão sendo digitalizados, o conhecimento, em geral, está com acesso mais facilitado, mas as pessoas estão cada vez mais isoladas. Isoladas do que? As relações humanas estão cada vez mais distantes e superficiais. O materialismo e o consumismo são aquilo que move a grande maioria das pessoas. Portanto, conhecer e observar o mundo em que vivemos é atividade rara hoje em dia, imagine então, a observação do próprio eu. A auto-observação, o autoconhecimento (tema de uma publicação aqui do blog) são tarefas árduas, difíceis e muitas vezes dolorosas, mas que por outro lado tornam-se também libertadoras, surpreendentes, nos fazendo alcançar a plenitude de ser quem a gente é.
Vamos tentar fazer o corpo, a mente e os sentimentos conversarem um pouco mais? Vamos colocar eles para bater um texto?

E AÍ, O QUE O SEU CORPO ESTÁ GRITANDO HOJE?

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Algumas vezes escrevemos para que o que está dentro de nós não domine o nosso ser.
Algumas vezes escrevemos para entender o que se passa dentro de nós.
Algumas vezes escrevemos porque queremos perpetuar um momento, um sentimento, uma emoção.


MOMENTOS

Há algo dentro de mim
Que guardo tão seguro...
As paredes sobem
ou sou eu que junto os tijolos?
Minha imagem me reflete
mais intensa e menos o que sou
Palavras e sons
a perder de vista...
São só uma pequena parte de mim
Eu olho nos seus olhos... Silêncio...
Eu falo, eu grito
Eu peço, eu imploro
Eu sinto...
Prender-me, soltar-me...
História é socorro
Futuro é esperança...
Prisões do presente
Destroem-se paredes
e o vento circula...
Até o próximo muro
Até a próxima luta
Construir-me, destruir-me...
Não me diga o que fazer
Não me diga o que ser
Não me diga o que sentir
Me deixe ir...
Me solte!
Padrão que segura
Força que puxa
A mão que alivia
é a mesma que prende
Voar é uma questão de escolha...
Não me olhe assim
Não me julgue tão rápido
As feridas estão escondidas
porque voar...
É o Amor lidando com a Dor
E por que isso seria tão fácil?
Momentos, mudanças... Renovação
Paradigmas nascem para serem quebrados
Esse é o ciclo da vida...
Libertação e Poder
Como as ondas do mar...
Estar onde eu quero estar
Ser o que eu quero ser...
SEMPRE!


LIBERTAÇÃO

Se for ferido, é importante lembrar que as cicatrizes serão como luzes que impulsionarão suas vitórias.
A dor não precisa, necessariamente, tornar-se sofrimento.
Quando nos conformamos que a dor faz parte da Vida, passamos a julgá-la menos dolorosa, pois compreendemos que a Dor representará, sempre, a nossa Libertação.


"O" DIÁLOGO

GAROTINHA: Ei! Por que não deu certo?
VIDA: Porque você escolheu assim.
GAROTINHA: Mas eu não queria isso.
VIDA: Será?
GAROTINHA: Não, já disse que não!
VIDA: Quantas chances você teve de não fazer o que fez?
GAROTINHA: Mas o que eu fiz? Estava tudo sob controle. Pelo menos eu achava...
VIDA: Esse é o problema. Você quer controlar tudo, cada segundo e então...
GAROTINHA: E então?
VIDA: Você não vive! Fala aquilo que não quer falar, faz aquilo que não quer fazer... Mas sentir o que não quer sentir fica mais difícil, não é?
GAROTINHA: (pensativa) É...
VIDA: Pois é, agora não tem mais jeito. Está feito. O meu tempo não volta!
GAROTINHA: E isso que eu estou sentindo agora? O que eu faço com isso?
VIDA: Transforma...
GAROTINHA: Quê?
VIDA: Eu sigo em frente, dia após dia... Venha comigo e você perceberá que amanhã é um novo dia. Mude, tente algo diferente.
GAROTINHA: Nem sei por onde começar...
VIDA: Comece por você mesma! Busque-se, vasculhe-se, conheça-se, ame-se. Um amor que entende as próprias limitações, que aceita as próprias fraquezas. Liberte-se de conceitos pré-formados sobre si própria e então será mais fácil lidar com as pessoas, será mais tranquilo enfrentar os problemas, será mais importante viver-me, plenamente, agora!

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Dia do ator


O blog Batendo Texto deseja a todos os atores um lindo Dia do ator.
Um dia para pensarmos em questões que, latentes ou explícitas, colaboram ou prejudicam o nosso ofício.
É mais um dia para refletirmos sobre o nosso papel na sociedade e relembrarmos de quantos atores, diretores, dramaturgos, entre outros profissionais da comunicação, fizeram a diferença e abriram diversos caminhos para essa nova geração de atores.
Porém acredito que não basta apenas determos grande herança cultural se não fazemos uso dela.
É necessário que nossa geração, muitas vezes acomodada, aproprie-se de ensinamentos, porém sem usá-los como regras, mas sim explorando os novos caminhos que podem verter dessa imensa bagagem que nos foi regalada, aprimorando técnicas, descobrindo novas direções e gerando outras fontes, não deixando que muitos valores se percam pelo caminho.
"Atores, sejamos peneiras e não esponjas". (Larissa Landdim)
Questione, reivindique, informe-se, não absorva tudo aquilo que chega até você como se isto fosse lei.
Que também possamos pensar na amplitude de nossa profissão e quando nos sentirmos sozinhos e sem oportunidades, façamos dos nossos sonhos e projetos realidade.
Não fomos capacitados para esperar, esperar, sentados, deitados...
O exercício da nossa função não é ficar parado esperando que algo aconteça, mas sim transformar vida em arte.
É a profunda e intensa pesquisa diária, é praticar isso com paixão e coragem.
Então, atores, muita força para prosseguir e persistir neste árduo caminho.
A recompensa?
É o próprio caminho!

Para homenagear nossos queridos colegas de profissão finalizo com um texto que acho fantástico.

O ator, de Plínio Marcos

Por mais que as cruentas e inglórias
Batalhas do cotidiano
Tornem um homem duro ou cínico
O suficiente para fazê-lo indiferente
Às desgraças e alegrias coletivas,
Sempre haverá no seu coração,
Por minúsculo que seja,
Um recanto suave
Onde ele guarda ecos dos sons
De algum momento de amor já vivido.
Bendito seja
Quem souber dirigir-se
A esse homem
Que se deixou endurecer,
De forma a atingi-lo
No pequeno porém macio
Núcleo da sua sensibilidade.
E por aí despertá-lo,
Tirá-lo da apatia,
Essa grotesca
Forma de auto-destruição
A que por desencanto
Ou medo se sujeita.
E por aí inquietá-lo
E comovê-lo para
As lutas comuns da libertação.


O ator tem esse dom.

Ele tem o talento de atingir as pessoas
Nos pontos onde não existem defesas.
O ator, não o autor ou o diretor,
Tem esse dom.
Por isso o artista do teatro é o ator.
O público vai ao teatro por causa dele.
O autor e o diretor só são bons na medida
Em que dão margem a grandes interpretações.



Mas o ator deve se conscientizar
De que é um cristo da humanidade:
Seu talento é muito mais
Uma condenação do que uma dádiva.
Ele tem que saber que para ser
Um ator de verdade, vai ter que fazer
Mil e uma renúncias, mil e um sacrifícios.
É preciso coragem,
Muita humildade e, sobretudo,
Um transbordamento de amor fraterno
Para abdicar da própria personalidade
Em favor de seus personagens,
Com a única intenção de fazer
A sociedade entender
Que o ser humano não tem
Instintos e sensibilidades padronizados,
Como pretendem os hipócritas
Com seus códigos de ética.


Amo o ator
Nas suas alucinantes variações de humor,
Nas suas crises de euforia ou depressão.
Amo o ator no desespero de sua insegurança,
Quando ele, como viajor solitário,
Sem a bússola da fé ou da ideologia,
É obrigado a vagar pelos labirintos de sua mente
Procurando, no seu mais secreto íntimo,
Afinidades com as distorções de caráter
De seu personagem.


Amo o ator
Mais ainda quando,
Depois de tantos martírios,
Surge no palco com segurança,
Oferecendo seu corpo, sua voz,
Sua alma, sua sensibilidade
Para expor, sem nenhuma reserva,
Toda a fragilidade do ser humano
Reprimido, violentado.
Amo o ator por se emprestar inteiro
Para expor à platéia
Os aleijões da alma humana,
Com a única finalidade
De que o público
Se compreenda, se fortaleça
E caminhe no rumo
De um mundo melhor,
A ser construído
Pela harmonia e pelo amor.


Amo o ator
Consciente de que
A recompensa possível
Não é o dinheiro, nem o aplauso,
Mas a esperança de poder
Rir todos os risos
E chorar todos os prantos.
Amo o ator consciente de que,
No palco, cada palavra
E cada gesto são efêmeros,
Pois nada registra nem documenta
Sua grandeza.


Amo o ator e por ele amo o teatro.
Sei que é por ele que
O teatro é eterno
E jamais será superado
Por qualquer arte que
Se valha da técnica mecânica.






segunda-feira, 25 de julho de 2011

Memória Emotiva (parte 3)


II- Técnica para o ator- A arte da interpretação ética, Utta Hagen com Haskel Frankel

"Há professores que realmente forçam os atores a lidar com algo já enterrado (sua reação à morte do pai ou da mãe, ou ao trauma de um desastre). O resultado é histeria ou algo pior, o que, na minha opinião, é antiarte. Não estamos procurando psicoterapia. Se você se sente mentalmente doente ou perturbado e acha que precisa de psicoterapia, deve, sem dúvida, procurar um médico ou um terapeuta, não um professor de teatro."

"Quando digo que você deve ter distância em relação a experiência que deseja usar como ator, não estou me referindo ao tempo, mas à compreensão. Em 1938, tive uma experiência com a morte de alguém que eu amava profundamente, uma experiência que ainda não consigo superar por completo ou discutir, e que por isso não posso usar como atriz. No entanto, também tive uma experiência pela manhã que fui capaz de digerir e empregar à noite."

"As próprias ações, verbais ou físicas, podem gerar fortes emoções e às vezes ser tão estimulantes para uma descarga emocional como qualquer objeto interno relembrado. (Quando digo objeto interno, estou me referindo a um objeto não exteriormente presente, mas a um que existe e é representado apenas na mente.) O simples ato de bater meu punho na mesa pode provocar um sentimento de raiva. Uma razão ou motivação lógica para agir assim pode carregar a ação para mim. Uma motivada súplica por perdão, a ação física ou verbal de implorar, acariciar ou apertar podem produzir um rio de lágrimas. A ação de fazer cócegas suaves em alguém pode me fazer disparar um ataque de riso. Não estou recomendando que você adquira o hábito de predeterminar a expressão da ação a fim de encontrar a emoção, mas a sensação ou a emoção estão alimentando continuamente a ação, a qual, por sua vez, fomenta a emoção."

" A memória sensorial, a lembrança de sensações físicas, é freqüentemente mais fácil para o ator do que a lembrança das emoções. Se nós, como atores, temos males do ofício, um deles talvez seja a hipocondria. Nós, em grande parte, estamos interessados em nossas sensações e as examinamos, discutimos sobre elas e às vezes lhe damos mais importância do que talvez seja usual para alguém que não seja ator. Não há nada de errado nisso, contanto que lembremos que essas sensações podem ser expressas de maneira útil. Alguns atores são tão sensíveis e sugestionáveis que uma simples conversa sobre dor, calafrio ou coceira pode convencê-los de que têm aflição semelhante. Esses atores são exceção. A maioria de nós deve aprender a técnica correta de produzir sensações, de modo que estejam prontamente disponíveis para nós no palco.
Como o corpo tem um senso inato de verdade, devemos aprender alguns fatos fisiológicos para evitar a violação da verdade física. Às vezes, com um simples ajuste corporal incorreto, podemos destruir nossa fé numa sequência inteira de nossa existência no palco."

"Em suma, minha opinião é que um ator que esteja atuando corretamente deve, no plano ideal, ser a criatura mais saudável e menos neurótica do planeta, pois está usando sua vida sensorial e emotiva ao exprimi-la com um propósito artístico. Se ele está trabalhando no teatro, tem a oportunidade de fazer uso de suas ansiedades, hostilidades, ternura reprimida por meio da expressão artística. Acho que talvez as pessoas nos chamem de neuróticos, fúteis ou exibicionistas porque não sabem que muitos atores talentosos são assim apenas porque estão sem oportunidades de trabalho e, por isso, manifestam sua necessidade de expressão no álcool ou em condutas irracionais- ou talvez- porque essas pessoas tenham inveja de que, quando realmente atuamos, podemos fazer o que elas, quando muito, apenas sonham em fazer."

Memória Emotiva (parte 2)


Alguns trechos sobre Memória das emoções do livro "A preparação do ator", de Constantin Stanislavski.


"Dessas impressões, forma-se uma memória de sensações vasta, condensada, mais ampla e mais profunda de experiência correlata. É uma espécie de síntese da memória em grande escala. É mais pura, mais condensada, compacta, substancial e cortante do que os acontecimentos de fato."

"O tempo é um esplêndido filtro para os nossos sentimentos evocados. Além disto, é um grande artista. Ele não só purifica, mas também transmuta em poesia até mesmo as lembranças dolorosamente realistas."

"Você é capaz de imaginar como é realmente a nossa memória emocional? Imagine um certo número de casas, com muitos quartos em cada casa, em cada quarto inúmeros armários, prateleiras, caixas, e, em algum lugar, numa delas, uma pequena miçanga. É bem fácil achar a casa certa, o quarto, o armário, a prateleira. Mas já é mais difícil encontrar a caixa exata. E onde estará o olhar penetrante, capaz de descobrir aquela pequenina conta que se desprendeu hoje e rolou, por um momento lampejou e, depois, perdeu-se de vista? Só a sorte a encontrará de novo."

"Sempre e eternamente, quando estiverem em cena, você terá de interpretar a si mesmo. Mas isto será numa variedade infinita de combinações de objetivos e circunstâncias dadas que você terá preparado para o seu papel e que foram fundidos na fornalha da sua memória de emoções. É este o melhor e único material verdadeiro para a criatividade interior. Utilize-o e não confie em nenhuma outra fonte para abastecer-se."

"Outra razão por que devem apresar essas emoções repetidas é que um artista não constrói seu papel com a primeira coisa que lhe está à mão. Seleciona com o máximo de cuidado dentre suas lembranças e elege das experiências vivas as mais sedutoras. Para tecer a alma da pessoa que vai retratar, utiliza emoções que lhe são mais caras do que suas sensações cotidianas. Podem imaginar campo mais fértil para a inspiração? O artista torna o que de melhor existe nele e leva-o para o palco. A forma há de variar, conforme as necessidades da peça, mas as emoções humanas do artista permanecerão vivas e estas não podem ser substituídas por nenhuma outra coisa."

"Não sei. As coisas do subconsciente não são do meu terreno. Além disso, não creio que se deva destruir o mistério em que nos habituamos a envolver nossos momentos de inspiração. O mistério tem beleza própria e é, por si só, um grande estímulo à criatividade"

"Isso, entretanto, não deve levá-lo a concluir que tem o direito de subestimar a importância dos sentimentos repetidos, sacados na memória emocional. Pelo contrário, deve dedicar-se inteiramente a eles, pois são o único meio pelo qual poderá exercer qualquer grau de influência na inspiração. Permita-me recordar-lhes o nosso princípio cardeal: Por meios conscientes alcançamos o subconsciente."

"Nunca se perca no palco. Atue sempre em sua própria pessoa, como artista. Nunca se pode fugir de si mesmo. O instante em que você se perde no palco marca o ponto em que deixa de verdadeiramente viver seu papel e o início de uma atuação exagerada, falsa. Assim, por mais que atue, por mais papéis que interprete, nunca conceda a si mesmo uma exceção à regra de usar sempre os próprios sentimentos. Quebrar essa regra é o mesmo que matar a pessoa que você estiver interpretando, pois a estará privando de uma alma humana, viva, palpitante, que é a verdadeira fonte da vida do papel."

"Todas as nossas experiências criadoras são plenas e vivas na razão direta do poder, acuidade e exatidão da nossa memória. Se for fraca, os sentimentos que desperta serão pálidos, intangíveis e transparentes. Não têm valor, no palco, porque não conseguem ultrapassar a ribalta."

"Utilizamos como material criador não só as nossas próprias emoções passadas, mas, também, os sentimentos que experimentamos ao simpatizarmos com as emoções alheias."


Anexarei a este post o link do Arquivo confidencial do Faustão que a Cássia Kiss participou. Vi no facebook do meu amigo Eraldo Júnior e gostei de algumas colocações da atriz. Vale a pena conferir. =)

http://www.youtube.com/watch?v=_S67paevBL0&feature=watch_response

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Memória emotiva



"Você acaso espera que um ator invente toda sorte de sensações novas ou até mesmo uma alma nova para cada papel que interpreta? Quantas almas teria de abrigar? Por outro lado, pode ele acaso arrancar fora sua própria alma e substituí-la por outra, alugada, por julgá-la mais adequada a determinado papel? Onde é que irá buscá-la? Podemos tomar de empréstimo roupas, um relógio, todas espécie de coisas, mas é impossível tomar de outra pessoa sentimentos. Os meus sentimentos são meus, inalienavelmente, e os seus lhe pertencem da mesma forma. É possível compreender um papel, simpatizar com a pessoa retratada e pôr-se no lugar dela, de modo a agir como essa pessoa agiria. Isso despertará no ator sentimentos análogos aos que o papel requer. Mas esses sentimentos pertencerão não à pessoa criada pelo autor da peça, mas ao próprio ator." (A preparação do ator, Constantin Stanislavski)

Eu sempre achei que não sabia usar minha Memória Emotiva em cena, até me dar conta da amplitude desta expressão criada por Stanislavski.
Quando preciso preparar uma cena tento relacionar a vida do personagem com a minha, buscando alguma semelhança no comportamento, ou em uma situação análoga que eu possa ter vivido.
Portanto, recorro à minha memória quando estou em processo de estudo da cena, porém quando interpreto não penso em nada que não tenha a ver com a minha personagem.
Eu achava que não usava a memória emotiva, pois enquanto faço a cena não penso em algo que aconteceu na minha vida particular, inclusive isso me desconcentra, eu simplesmente deixo a cena fluir...
Mas a memória emotiva está ligada à memória sensorial, uma instiga a outra e muitas vezes um olhar de desprezo, um beijo, um tapa na cara, um abraço, pode despertar a memória das emoções.
Em cena, esses momentos passam despercebidos, e as suas lembranças e sentimentos podem fundir com as do personagem em fração de segundos, e dissipar na ação seguinte do personagem.
Sentimentos e sensações surgem verdadeiramente em cena, significa que os estímulos em cena atuam não só sobre a personagem, mas antes sobre o ator.
Ou seja, a Memória emotiva está em ação!
Acredito que enquanto atuamos, não podemos ser completamente técnicos ou totalmente tomados por fortes emoções.
Mas será que nos momentos que somos técnicos estamos estimulando a memória das emoções/sensações e as usando em cena?
Quando usamos uma técnica de respiração para chegar a uma sensação ou emoção, por exemplo, estamos acessando intuitivamente a nossa memória das emoções/ sensações? O que fazer se durante uma cena vier à tona uma emoção equivocada que nos faz perder o controle das ações da personagem?
Ainda acho muito difícil ter o controle desta técnica, mas aos poucos descobrimos mais sobre nós mesmos e nossas emoções.
Em 2006, na apresentação da peça "Para quem não usa Ritalina", de Tom Dupin, eu interpretava a Soraia, uma garota sonhadora que era estuprada pelo seu patrão no final da peça. O estupro não acontecia, a cena se congelava no momento que o patrão de Soraia ia para cima dela e o foco continuava por aproximadamente 10 minutos em outra cena que acontecia no proscênio.
Ensaiei a peça durante 4 meses e aquela cena nunca me causou nenhum tipo de incômodo. Eis que no dia da estreia, durante a cena, eu começo a chorar compulsivamente. Consegui chorar sem fazer barulho. Sabe aquele choro que você abre a boca e quase perde o ar? rs Meu parceiro de cena, querido amigo Edson Gon, me dizia baixinho: fica calma, fica calma. Eu chorei até o final da peça.
Se eu te dissesse que me lembrei de alguma tristeza profunda da minha história de vida estaria mentindo. Eu não pensei em nada. Eu não me lembrei de nada. Acredito que a tensão da minha personagem continuou crescendo ao invés de congelar junto com a cena e foi estimulada pela sensação de sufoco e aprisionamento, pois a personagem do Gon estava em cima de mim. Aquela sensação se tornou uma emoção muito forte e ao mesmo tempo uma repulsa, mas não da atriz Carolina, e sim da personagem Soraia.
Houve uma outra vez que gravei um monólogo e um professor me aconselhou fazer uma substituição de circunstâncias. O monólogo era uma declaração de amor para um amigo, e tinha um trecho que a personagem dizia o seguinte: "Eu queria que você soubesse que mesmo que isso não dê em nada, já valeu. Já valeu a pena por tudo que eu experimentei assim, sozinha...Na solidão dos meus pensamentos, dos meus desejos". A ideia era fazer a declaração, mas com estímulos diferentes. Eu diria este texto pensando que o assunto era o meu amor não pelo meu amigo, mas sim pela arte, pela minha carreira. Eu faria o monólogo pensando o quanto era importante para mim estar ali e pensando na minha luta diária para conquistar o meu espaço. O resultado foi muito positivo. Quando eu chegava no trecho do texto que transcrevi há pouco, era a parte que eu mais me emocionava.
Este professor foi muito sensível ao perceber que isso seria algo que me emocionaria e ao mesmo tempo despertaria um sentimento similar ao que a cena pedia.
Acho que esses dois momentos na minha carreira tem muito a ver com o tema abordado neste post.
Ainda tenho diversas dúvidas sobre a prática de Memória Emotiva e Memória Sensorial, mas com as pesquisas, auto- análise e observação tudo começa a clarear e fazer sentido.
Ah! Acho importante ressaltar que reli o capítulo sobre Memória das Emoções do livro "A preparação do ator", de Stanislavski. Havia lido há 9 anos atrás e garanto que hoje em dia tudo faz muito mais sentido para mim.
Em paralelo li o livro do Renato Ferracini "A arte de não interpretar como poesia corpórea do ator" e o livro de Uta Hagen "Técnica para o ator. A arte da interpretação ética", ambos falam sobre Memória das emoções e Memórias das sensações.
Farei a parte 2 deste tema para que possamos rever conceitos que serviram de base e ponto de partida para os demais estudos sobre a arte de interpretar.

Se quiser fazer algum comentário, relatar alguma experiência profissional ou pessoal ou então partilhar informações, fique à vontade.

(A foto acima é de uma cena da peça "Para quem não usa Ritalina". Uma homenagem ao meu caro amigo Edson Gon, que presenciou um momento equivocado, mas muito importante da minha carreira. Que só hoje posso compreendê-lo e aceitá-lo como parte deste complexo processo de aprendizagem do ator).

terça-feira, 7 de junho de 2011

O céu é o limite!


Olá, queridos!
Já faz algum tempo que não postamos nada, eu sei, mas há alguns momentos na vida em que esse tempo é preciso.
E isso acontece por diversos motivos, ou porque precisamos digerir informações, refletirmos sobre conceitos, ou então por precisarmos avaliar determinados acontecimentos para decidirmos qual é o melhor caminho a trilhar.
Muitas vezes recebemos sinais que nos avisam quando o momento chega.
Sinais estes que podem surgir através de algum conselho, de uma intuição ou do seu próprio corpo pedindo socorro.
Eu respeito muito estes sinais, e já faz algum tempo que estou vivenciando um "intervalo".
(Juro, não era sobre isso que queria postar hoje, minha ideia era escrever sobre Memória Emotiva, estou lendo muitas coisas a respeito e me surgiram várias dúvidas que eu gostaria de dividir com vocês, mas acredito que essa justificativa é imprescindível para recomeçarmos, mesmo porque ela também é uma questão muito importante para estar em pauta hoje)
Meu corpo gritou, gritou e eu não quis ouvir e lutei contra seu pedido de socorro com todas as minhas forças. Mas ele foi mais forte do que eu. Fique "tonta". Sem chão. E caí.
Deitada no chão vi tudo girando sobre mim. De um ângulo que ainda não tinha visto.
Do lado de fora de todo aquele tornado, vi minhas angústias, meus anseios, minhas vontades, meus caprichos, meus sonhos, minhas dúvidas, minha criação, minha personagem, meus medos, meu LIMITE.
Sim, eu havia chegado ao meu limite.
É frustrante para qualquer ser humano perceber que não consegue ir além dos obstáculos da vida para chegar ao resultado que havia planejado, ou que ainda não é o momento para enfrentar determinadas provas.
E como funciona esse momento crucial na vida de um ator? Até onde devemos ir com a nossa "gula" por vivências? Devemos permitir que elas aconteçam naturalmente e assumir que não estamos prontos psicologicamente ou fisicamente para determinados personagens? Somos fracos por não nos aprofundarmos num universo que não temos o controle? Devemos perder o controle até achar o equilíbrio? Limitar-se é não dominar a técnica, ou não ter repertório suficiente de experiências vividas?

Estou lendo o livro "Técnica para o ator - A Arte da interpretação ética" de Uta Hagen com Haskel Frankel, tem um trecho que achei muito interessante, em que ela diz:
"Um jovem pianista talentoso, hábil na improvisação ou em tocar de ouvido, pode ser uma sensação passageira num night club ou na televisão, mas sabe que é melhor não tentar um concerto para piano de Beethoven. Os dedos do pianista simplesmente não conseguirão executá-lo. Um cantor pop com a voz destreinada pode ter sucesso semelhante, mas não com uma cantata de Bach, porque romperia as cordas vocais. Uma bailarina sem treino não tem esperança alguma de dançar em Giselle, pois romperia os tendões. Em sua tentativa, eles vão arruinar o concerto, a cantata e Giselle também para eles mesmos, pois se um dia finalmente estiverem preparados, só se lembrarão dos erros do passado. Mas um jovem ator, se tiver a oportunidade, vai mergulhar em Hamlet sem pensar duas vezes. Ele deve aprender que, enquanto não estiver pronto, está destruindo a si mesmo e ao papel."

Sei que esta não é uma verdade absoluta, pode até ser que existam atores geniais e prontos que não precisem de amadurecimento e técnica para atuar lindamente em "Hamlet" ou em qualquer outra grande obra, mas os dizeres de Uta me confortam perante a minha decisão. Não estou tranquila e relaxada quanto a isso. Pelo contrário. Mais do que nunca quero descobrir caminhos que me façam chegar ao domínio dessa técnica.
Talvez ter abdicado, com consciência, de algo tão importante para mim por saber que não estava pronta, já seja o início de um caminho rumo a autodescoberta.
Sem limites.
O céu é o limite!